sexta-feira, 22 de junho de 2018

De narrações por Hamburgo

A convite do Instituto Cervantes de Hamburgo participei hoje no BuchEntdecker Tag, ou em mais latinas expressões um simples: Dia do descobridor do Livro. No pomposo Museu de Altona, e com a participação de diversas associações culturais da cidade assim como de instituições nacionais e internacionais, houve três andares repletos das mais diversas actividades para crianças tendo o livro como ponto central. Um mundo de sonho para quem se dedica ao fascínio dos livros.
Ao ser recebido pelo bibliotecário do Cervantes e trocados os primeiros galhardetes habituais eis que surgiu a pergunta inocente:
- Estás a gostar? Estão aqui todos! Nós, o Instituto Francês, uns gajos do Irão, ali uns refugiados, leitura para cegos... Isto é incrível! Mas diz-me uma coisa: onde está o Camões? Nunca vejo Portugal nestas coisas.
Se tivesse seguido o meu apurado instinto de scalabitano empedernido, teria mudado o tema para o futebol, mas talvez já seja emigrante há muito tempo e assim não foi.
Suspirei.
Voltei a suspirar e limitei-me a repetir banalidades como a não existência de actividades na Longa Noite dos Consulados ou do facto das actividades do Camões em Hamburgo serem quase sempre durante o horário de expediente e, por isso, inacessíveis para uma maioria de portugueses que trabalham. Isto, claro está, quando as há.
Sei que é fácil criticar, mas também sei que é possível marcar uma presença mais efectiva e fazer manter viva a esperança de que vale a pena acreditar que a cultura em língua portuguesa tem uma especificidade e mérito próprio e de que isso passa pelo contacto directo com pessoas nos sítios onde elas estão. E pelo que vi e tenho aprendido nestes últimos anos de cooperação com o Instituto Cervantes não passa por responder apenas às necessidades e pedidos das comunidades emigrantes, mas também, e muito, pela promoção constante junto do público alemão.
Mas isto sou eu que o digo. Talvez não seja a melhor referência para me imiscuir nestes assuntos. O que sei é que me magoa cada vez mais saber que a imagem que vamos vendendo no exterior é a de um país que vibra com os golos do Ronaldo de sardinha na mão e que talvez não seja bem essa a imagem que quero que a minha filha venha a ter no futuro do país onde nasci.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Racismo?

Hoje proponho-me a falar sobre um dos mais complicados temas que de tempos a tempos me assalta por estas terras germânicas: o racismo.
Existe? Não existe? Como são os alemães em relação aos estrangeiros?
De certa forma sinto que estas perguntas já me foram colocadas por amigos portugueses e espanhóis por diversas vezes e que em muitas delas acabo por me esquivar em comentários politicamente correctos e inconcretos. Contudo, as recentes declarações do líder do FDP*, Christian Lindner, despertaram em mim velhas questões que agora procurarei clarificar:

Os alemães, em geral, não são racistas. Ou pelo menos aqueles que conheço e com quem privo diariamente, o que não pode ser tido em conta como um dado fidedigno de representação da sociedade como um todo.
Mas há excepções e gostaria de clarificar dois tipos de racismo:

1- Um mais evidente presente nas pessoas que escolhem votar em partidos de extrema direita como o NPD ou até mesmo o polémico AFD que até já tem representação no Parlamento. Há casos de violência extrema como aconteceu recentemente em Magdeburgo onde um homem lançou um cão de ataque contra uma família de refugiados ou os incontáveis casos de ataques a casas de acolhimento de refugiados um pouco por toda a Alemanha. A nível do quotidiano em Hamburgo tenho apenas a referir alguns palavrões provenientes de velhos caquéticos que de tempos a tempos lançam um Scheissauländer (estrangeiro de merda) mas que em nada ameaçam a minha integridade.

2- O mais recorrente dos racismos é um que se baseia num sentimento geral de ignorância sobre o outro que acaba por revelar um desconhecimento de si mesmo.
E aqui é onde entra o senhor Lindner com o seu comentário: ao apresentar estereótipos irreflectidos provocou uma onda de indignação na comunicação social, mas que lamentavelmente reflecte o pensar de uma boa parte da população local. De tudo o que tenho ouvido nestes últimos cinco anos e meio que aqui vivo, destaco três casos para ajudar a perceber de como nos pode ocorrer a qualquer momento:

a) Na inscrição para um curso de alemão a secretária da escola informa-me que o curso não tem validade para a obtenção de visto de residência na Alemanha. Prontifico-me então a explicar-lhe que Portugal faz parte da UE e que, tal como os alemães que vivem em Portugal, não preciso de tal coisa. Ela responde-me um seco "Trotzdem" que se poderia traduzir como um "Como queiras".

b) Numa escola onde trabalhei discutia-se a estrutura das AECs que tinham acabado de ser inauguradas como super plano inovador. Pensei então que poderia dar a minha opinião pois trabalhei no longínquo ano de 2005 no primeiro ano de tal aventura por terras lusas e em 2007 elaborei um plano de leitura para todas as escolas do concelho de Grândola, sentindo então que teria uma opinião válida sobre o assunto. Depressa me responderam que em Portugal existiria talvez outra coisa que não o que ali tentavam implementar. Quando falei sobre isto com uma amiga francesa que também estava a trabalhar nas AECs locais, disse-me que o mesmo tinha acontecido com ela e que a tinham excluído de todo o planeamento.

c) Quando digo que sou português, muitas vezes as pessoas referem emocionadas as experiências que viveram em Espanha ou em Itália pois afinal os "Sudländer" (termo utilizado para descrever as pessoas originárias do sul da Europa) são um género de entidade única e indivisível e que sempre se comportam da mesma maneira. Quando tento estabelecer um contraste entre a melancolia portuguesa e o euforismo espanhol ou a expressividade italiana, costumo receber olhares de "Ach ja" (claro, claro) e logo continuam a descrever os virtuosismos dos Mojitos que se podem beber em Maiorca. 


Mas estes casos acontecem igualmente entre alemães dentro da Alemanha pois os habitantes da antiga Alemanha de Leste ainda são apelidados de Ossies (que ousaria traduzir como "Lésticos"), da mesma maneira que os habitantes de Hamburgo são os "Fischkopf" (cabeças de peixe).
Posso então concluir que os alemães adoram gavetas onde possam enfiar todos aqueles que são diferentes de si mesmos e que, por sorte, costumo lidar com pessoas que aboliram tais sistemas e para quem o ser humano é algo mais complexo que ultrapassa fronteiras ou sistemas de catalogação.
E isso dá-me esperança que cada vez mais pessoas sejam assim. E já seria bem bom.


* Lindner considerou incorrecto as pessoas reagirem negativamente à cor da pele de quem nos vende o pão, mas percebe e aceita que as pessoas temam quando alguém fala alemão de forma incorrecta, tal como quando se deparam com um Nazi, um violador ou um adepto do Hamburgo.

sábado, 24 de março de 2018

Do (des)funcionamento das coisas por aqui

Depois de uma longa ausência da minha residência em Hamburgo eis que regresso e deparo-me com um modem incapaz de controlar a sua alegria por me ver, exibindo uma eufórica coreografia de intermitentes luzes verdes e encarnadas. Como bom dono que sou, logo o fui afagar e fiz-lhe juras de um amor e carinho indescritível nas humildes páginas virtuais que aqui vou condensando sem qualquer critério.
Liguei o wifi do telemóvel e descubro que todo o espectáculo pirotécnico era afinal denunciador de uma anomalia e não de felicidade extrema.
Como não sou pessoa de desistir assim às primeiras, resolvi afagá-lo de novo pedindo com carinho que funcionasse.
Não me ouviu e continuou nas suas celebrações multicolores a roçarem um género de ebriedade natalícia.
Ameacei desligá-lo.
Fi-lo mesmo, reiniciando-o sem dó nem piedade.
Nada.
Seguiu-se então o momento que qualquer pessoa sã neste país teme: ligar à assistência técnica da O2. De forma a que os leitores residentes fora da Alemanha possam perceber a dimensão da coisa, devo esclarecer que recebi informações seguras de que a grande coligação que irá governar este país só foi possível quando a senhora Merkel ameaçou os demais parceiros que iria chamar os serviços técnicos da referida empresa caso não se decidissem a formar governo. A isto respondeu então o trauliteiro ministro da Baviera: Passt schon 
Liguei, pois. Após terem confirmado que não conseguiam resolver o problema, disseram que teria que receber a visita de um técnico. Confesso que temi o pior: estas coisas na Alemanha são sempre um convite para uma longa espera. No Consulado Português de Hamburgo consegue-se uma marcação no prazo de três meses (quando uma pessoa tem sorte).
Ao contrário do esperado, propuseram-me para o dia seguinte (quinta-feira) em dois períodos distintos: ou entre as 8 e as 14 ou entre as 14 e as 20. Escolhi o primeiro.
Às oito em ponto estava eu já a pé de pequeno-almoço tomado e pronto para qualquer eventualidade. Contudo a eventualidade não ocorreu até às 15 horas. Ligo para o serviço de apoio ao cliente e quando os informei que tal e coiso o técnico não tinha aparecido, agradeceram-me a informação, mas já o sabiam pois o técnico tinha ligado a dizer que estava doente logo pela manhã. Como era quinta-feira, marcaram-me nova visita para segunda.
Eis que segunda chega. Um técnico ofegante de subir os quatro andares que antecedem o meu olha para o modem que continua em permanente festa como se tivesse caído para dentro do caldeirão das anfetaminas quando era bebé, e arranca o cabo da tomada, destruindo-o com uma dedicação extremada. Em seguida olha para mim e diz: o problema é do cabo. Ainda tentei sugerir que talvez fosse do modem em si, mas ele limitou-se a dizer que tinha que comprar um cabo novo.
Como sou um daqueles emigrantes obedientes, peguei na bicicleta e lá fui comprar um cabo, instalando-o sem pudores.
Curiosamente, não resolveu o assunto.
Nova chamada para os serviços técnicos que se prontificaram a enviar um novo modem, jurando que me chegaria às mãos no dia seguinte.
O dia seguinte passou e nada.
Novo dia a amanhecer e nada.
Num inspirado laivo procuro no site da DHL se por acaso havia alguma encomenda com o meu nome em algum lado. Havia. Pois claro que havia. Simplesmente não fui notificado.
Após me ter dirigido ao posto dos correios para ir levantar a encomenda com o modem, chego a casa e o que é que tenho no correio? Pois claro, a notificação que não tinha sido deixada no dia em que a encomenda tinha sido "entregue".
Ao contar esta desventura a um amigo alemão, recebi um leve sorriso de empatia e um: "welcome back to Germany".
Oh yeah, agora, mais do que nunca, sinto que já aterrei de corpo e alma nestas terras hanseáticas.
 

domingo, 11 de março de 2018

Quantos menos sonhos, mais adornos - Mia Couto

Deixar Santarém rumo ao interior do país é um vasto calvário de terras ardidas, de vidas que por ali ficaram perdidas num negro que nos acompanha durante quilómetros e quilómetros que se nos vao adentrando de forma indelével.
Ao fim de um tempo a vontade de fazer a piada fácil sobre o nome de terras como Cabeca Gorda,  Benlhevai ou Sarnadas desaparece e dá lugar a um sentimento furioso, tal como será porventura furioso o esquecimento a que estas pessoas se verao rogadas ano após ano, conhecendo apenas uma breve luz de atencao que breve se esfuma.
Com o inverno a tentar impor o seu tino, voltam a desaparecer estes nomes até novo verao. Caso ainda haja algo mais para arder.
Aterrar no interior é respirar fundo e tentar descobrir mais do que só Portugal. É, porventura, descobrir-me a mim mesmo em frases, expressoes, rostos e pedras que ali parecem plantados desde tempos imemoriais como se à espera estivessem que lá fosse com o meu eterno pasmo beber inspiracao directamente de um fonte inesgotável.
Ou nao.
Se ver a Santarém onde cresci desaparecer lentamente em lojas fechadas e prédios abandonados é penoso, este périplo pelo interior do país revelou-me um abandono mais acentuado, mais prédios e casas rogadas ao abandono, assim representando uma queda que julgo sempre ser final até nova visita e novo acentuar da desertificacao. 
E com este desertificar, sinto-me eu também a desaparecer, a envelhecer mais depressa num processo desesperancadamente irreversível até que reste apenas a sombra de uma alma e de um ser que a todo o custo vou tentando manter por estas outras terras tao distantes onde vou tentando ser apenas eu dia após dia.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Uma geringonça para a Alemanha, se faz favor

Há dois meses houve eleições na Alemanha: CDU com vitória pouco convincente, o descalabro da SPD, o regresso da FDP e a escandalosa entrada da AFD nas contas parlamentares. Isto são os factos iniciais.
Ciente de que governar é uma coisa séria onde não pode haver contradições, a senhora Merkel iniciou negociações para formar governo. Perante a recusa de um SPD desgastado de uma coligação governamental de quatro anos e tendo em Schulz um perdedor capaz rivalizar em maus fígados com o Jorge Jesus, virou-se a CDU para algo jamais visto por estas bandas: coligação com liberais e verdes, num acto que ficou desde logo conhecido como a coligação Jamaica ( ao preto da CDU juntava-se o amarelo da FDP e o mais óbvio verde dos verdes). E aí começou a faena: dia após dia os noticiários foram mostrando uma Merkel cada vez mais desgastada a anunciar que estavam no bom caminho, uns verdes a dizerem que apesar das diferenças algo se estava a resolver e um líder dos liberais em constante modo de "eu sou espectacular e não sei porque é que não reconhecem de uma vez por todas que quem devia mandar nisto era eu".  Ah, claro está que a esta constelação se teve que somar igualmente a presença de elementos da CSU que, como se sabe, mais do que o partido irmão da CDU na Bavaria, são gente que falam com sotaque curioso e que gostam de mostrar que isto de família, ao contrário dos amigos, é coisa que realmente não se escolhe.
Perante tão maravilhoso cenário capaz de encher as manchetes durante dois meses e de colocar a Jamaica no roteiro político da Alemanha, no que a meu ver poderia ter ficado conhecido como as Jamaica talks, o resultado das negociações foi aquele que se esperava de um país democraticamente maduro e sério: não resultaram.
Os verdes acusaram os liberais de não abrirem mão da exploração de carvão e de não cederem em relação às políticas de controlo indústria automóvel, a CSU insistiu em políticas mais próximas da extrema direita a fim de roubar eleitores à AFD e os liberais, na figura do seu líder Christian Lindner, não perceberam porque é que ninguém reconheceu que eles são espectaculares e por isso deveriam ser eles a mandar nisto tudo.
Novas eleições!,  gritou-se do lado do SPD e eu de repente imaginei o ar de satisfação da AFD ao poderem adicionar ao seu manifesto anti político e  antidemocrático um: vejam a inépcia dos políticos convencionais. Se ganharmos, não se preocupem: dispensaremos automaticamente todos os demais políticos.
A isto tudo reagiu o presidente alemão com um pedido de diálogo ao seu SPD e uma Merkel a dizer que só governa com certezas.
Na segunda abre-se nova ronda de negociações para a recriação de um bloco central perante o cepticismo do senhor Schulz, o que me faz ter vontade de pedir ao ministro dos negócios estrangeiros português que venha à Alemanha vender o mais recente conceito político português da geringonça que aparentemente funciona mas que ninguém sabe bem porquê. E nestas coisas a ignorância é a minha mais fiel amiga. E os amigos, como se sabe, podem-se escolher.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Viajar

Quando viajo sou sempre invadido por um mesmo sentimento de pensar em como seria a minha vida nesse outro local, que outros hábitos somaria aos indeléveis que já tenho (e que porventura nunca virei a perder, engrandecendo-os a cada dia que passa).
Para tal nao preciso de destinos exóticos, contentando-me em imaginar como seria viver na Figueira da Foz, Évora ou até mesmo Óbidos. Claro está que também já sonhei em viver na Índia, no Irao, na Catalunha ou até mesmo na minha Santarém natal que por vezes se enche de fantasias místicas entre um passado e um tempo qualquer futuro que nunca sei se se chegará a concretizar.
Com o AirBnB tenho visitado e habitado casas que tem tido a capacidade de me encher de passados de outras pessoas, de outras vidas e outros modos num género de complemento perfeito ao que se passa quando leio.
Sei que tudo isto poderá nao passar de quimeras e sonhos de conseguir ser diferentes pessoas numa só vida, mas que fazem feliz.
E por isso mesmo creio que nao deixarei nunca de visitar e revisitar sítios, de ler livros situados em destinos mais ou menos exóticos, sentindo-me mudar e metamorfosear, num crescimento irreal que acabrá por me compor enquanto ser real.

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Catalunya

Antes de comecar este texto devo confessar que a minha relacao com a Catalunha é sobretudo emocional, fruto de todas as vivencias que tenho vindo a acumular nas minhas visitas anuais e das pessoas com quem me tenho cruzado e me tem inspirado para seguir os meus caminhos.

Hoje segui de perto e com o coracao nas maos as declaracoes do presidente da Generalitat Carles Puigdemont. Da mesma forma como segui e sofri com a brutalidade policial a 1 de Outubro aquando do referendo "inconstitucional" tendo em vista uma independencia de Espanha.
Esperava, confesso, uma declaracao emocionada e vívida de independencia, de afirmacao de uma nacionalidade e do fim do que considero ser um abuso de um país em relacao a outro. E isto defendo-o tendo em conta de que a Catalunha é, para mim, um país, com tudo o que isso acarreta.
A todos os que poem a questao nacionalista como uma questao económica e de teimosia das estranhas gentes que constroem torres humanas e comem botifarra, pergunto-me apenas como se sentiriam os portugueses caso o nosso presidente fosse detido e fuzilado (como aconteceu com Companys em 1940) e que no final da ditadura opressora nao fosse reconhecida de volta enquanto país livre e democrático. Esta tem sido uma das questoes que raramente tenho visto abordada pelos comentadores portugueses ou até mesmo pelos alemaes, que se limitam a afirmar que a catalunha sempre foi Espanha.
No dia 1 de Outubro milhoes de catalaes foram votar, mesmo contra vontades políticas e judiciais que tudo fizeram para o impedir. E tudo, refiro-me a atitudes democraticamente questionáveis como cortes de redes de internet, aameacas de prisoes a diversos dirigentes, multas que subiriam a 600 mil euros aos colaboradores, à prisao efectiva de pessoas e, claro está, a uma repressao policial tendo em vista uma política de medo, em muito semelhante às dos regimes ditatoriais.
Seguiram-se mais ameacas e atitudes mais incisivas como cortes financeiros, bloqueio de contas bancárias (como as da Omnium Cultural) ou o aliciamento para as empresas catalas se mudarem para solo espanhol. A vice-presidente de Espanha chegou mesmo a sugerir que Puigdemont deveria seguir os passos de Junqueras em 1940.
Contudo, Puigdemont ainda nao declarou a independencia e propos continuar com diálogos, aclarar situacoes e responsabilidades e tentar fazer um processo democrático e claro. Muito ao contrário de Rajoy que tem sistematicamente defendido solucoes judiciais para castigar os responsáveis, um pouco à semelhanca de um jogo de criancas.
A isto tudo tenho assistido perante a insistencia europeia em dizer que se trata de um problema interno espanhol.
Mas talvez nao o seja. Que diriam os responsáveis europeus se a Catalunha aceitasse o apoio e influencia de uma Rússia em crescimento e à procura de novos centros de influencia no mundo? Ou da China? Ou de milionários árabes?
Quando Portugal recuperou a sua independencia em 1640, também era inconstitucional. Assim como as diversas colónias americas de Espanha. E aqui estamos nós. Um Portugal mais ou menos livre e capaz de decidir por si próprio.
E eu, pessoa emocionalmente volútil e sem grande voto na matéria, sigo esperando novas,de coracao na mao aguardando nao ter que cantar como Chico Buarque:
 Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente, um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente nalgum canto de jardim