segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

As rocambolescas aventuras de se arrancar um dente do ciso em Hamburgo

Pela primeira vez desde há muitos anos fui a uma consulta de dentista e, ao contrário de todas os intentos da aplicada senhora, nao me foi descoberto nada de novo.
Nada!
Uma cárie, uma qualquer infeccao digna de um episódio dos Ficheiros Secretos ou até uma possível periodontite num futuro mais ou menos próximo.
Nada!
Impecável, disse a dentista.
Num momento em que já me encontrava numa género de euforia interior como há muito tempo nao vivia pronto para uma celebracao sem antecedentes, eis que me olha no fundo dos meus olhos e lanca um: pode entao ir arrancar o dente do ciso, assim como quem nao quer a coisa.
Num cartao escreveu-me uma recomendacao de um colega e lá fui eu, qual alma penada, marcar uma consulta para proceder a mais um episódio da minha traumática experiencia com a cremalheira (como em Grandola simpaticamente se referiam ao conjunto de estruturas esbranquicadas que se encontram na boca a fim de nos facilitarem o processo digestivo).
Chegado o dia as maos suavam-me de forma desmesurada, mesmo apesar das temperaturas negativas que se abateram sobre Hamburgo nestes últimos tempos. O meu coracao ameacava parar a qualquer momento em virtude das suas abusivas taquicardias. As pernas tremiam-me que nem as do Veloso antes da marcacao do pénalti na final de 88 ante o PSV.
Chegado ao belo edifício modernista exclusivamente dedicado a consultórios médicos, lá me dirigi à recepcao. Uma senhora dos seus cinquenta anos passou-me para a mao um extenso questionário sobre os meus mais diversos hábitos e doencas. Devo dizer que a mais ligeira constipacao assume em alemao contornos de algo capaz de nos levar para a tumba sem pestanejar.
Preenchido o questionário, uma simpática menina que se revelou incapaz de pronunciar o meu nome lá me arrastou para a fatal sala onde, ò Deus, a minha boca seria submetida a atrocidades cujos pormenores vos pouparei.
A minha confianca nao aumentou quando me apercebi que a dita cuja era uma estagiária que revelou certa dificuldade em abrir o pacote esterilizado com os instrumentos da tortura que se iria seguir. Ao me perguntar se estava tudo bem comigo, nao se coibiu de levantar os polegares ao jeito de Circo Romano. Apesar do meu intenso desejo de os inverter apontando para o chao, limitei-me a tentar sorrir de forma a tranquilizá-la.
- O doutor já vem - disse-me.
Dez minutos depois eis que aparece o carniceiro. Enquanto me dava anestesia avisou-me que iria sentir uma pica numa total falta de coordenacao temporal pois já a estava a sentir como a alguém a quem muito quero. Dada a anestesia, tornou a abandonar a sala, voltando-me a deixar sozinho com a rapariga que parecia agora estar em puro sofrimento qual Teresa de Ávila face às suas místicas revelacoes.
Incapazes de falar um com o outro, deixei que a anestesia fizesse efeito, esperando mesmo que ele se tivesse enganado e me tivesse dado uma dose suficiente para me fazer adormecer deixando-me num estado pré-comatoso.
Infelizmente nao se enganou e passado um bocado lá voltou a surgir. Atirou-me uma toalha para o rosto e sem pudor cortou-me a gengiva e arrancou-me o dente à bruta num processo que nao demorou mais do que dois minutos.
- Leia as instrucoes no folheto que lhe vao dar e um bom resto de dia.
E assim se foi embora sem que tivesse tempo de me fixar na cara do meu cruel carrasco.
Já a minha pessoa ficou atordoada com um papel na mao onde consegui decifrar que em caso de problemas poderia voltar a ligar para a clínica no dia seguinte entre as oite e as catorze, horário mais do que conveniente para quem se estiver a esvair em sangue. Na realidade, aqui deixo expressa a minha fiel conviccao de que considero um despropósito alguém padecer do que quer que seja numa sexta-feira a seguir ao almoco.
O descanso e a paz é algo que estas gentes muito prezam e, a meu ver, é uma das bases fundamentais para o sucesso económico do país. Isso de trabalhar sexta da parte da tarde é coisa para países subdesenvolvidos do sul da Europa, segundo ouvi dizer.
Após um período de recobro de dois dias em que me tentei alimentar a puré de batata e boioes de comida para bebés, resta-me agora a satisfacao de saber que nao me irao arrancar mais nenhum dos danados dentes do ciso, até porque já nao tenho mais nenhum.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Proud

Today I had my last class at a course in a school in Eppendorf (Hamburg) with a group of primary school students.
After a semester full of good experiences with particularly brilliant kids,  I´ve decided to try my "new toy" and tell one story with a shadow theatre. After I´ve done it, the group has refused to leave their places and asked for another one. And so I did.
After that they have asked me whether I would explain them how the whole thing works. No more than five minutes were needed till I got some precise instructions that I should give them ten minutes on their own so that they would find out a story and present it to me.
Leaving the room I couldn´t control my growing expectation towards what was to come.
When I got back inside the room, they've ordered me to lay on the fluffy carpet of the library so that I would see the story on the ceiling, just as they have done before during my presentations.
This was the result:


For those who don't speak german here goes a brief summary: this was a normal city where a thief has always waited for midnight to rob people´s houses and shops. But there was a sleepwalking lady who has managed to get him and took him to the town´s judge who has made him ask for sorry.
More than the story in itself, it was the wonderful humour of the whole presentation which made me feel proud and tremendously happy to see it.
In the beginning they start presenting some of the people who lived in the city, starting by the President Lady and the President Man, as women should always come first ( as I was latter told).
There´s a moment where the kids didn´t know where they have put the puppet they needed so they have just decided to put an airplane flying around as it is always something nice to see. From the school it is always possible to see airplanes preparing to land at Hamburg´s airport.
Another one is how the sleepwalking lady suddenly changes her clothes as soon as she wakes up and gets the robber, because everyone know that it is silly to walk around in pijamas, or so  have they told me in the end of the story.
I have to admit that after ten years telling stories in the most different contexts, it is moments like this that make me keep on. Thanks kids for making me smile and believe in the power of stories!!

Last, but not the least, I have to confess my admiration for Jeff Gere´s work, which has arisen my curiosity and fascination for this way of telling stories. Thanks Jeff!!!