sexta-feira, 23 de junho de 2017

Que catita é o G20

Em Hamburgo aproxima-se o G20.
De 6 a 8 de Julho a cidade irá receber algumas das mais importantes personagens da cena política internacional. Para tal evento, claro está que a cidade já se está a engalanar, sendo esperados cerca de dezoito mil polícias que irão assegurar que nada de mal acontecerá aos nobres convidados. Numa entrevista ao Spiegel, um deles admitiu que está ansioso pelas brincadeiras com água, quando questionado sobre o uso dos canhões de água enquanto medida persuasiva de manifestantes.
Manifestantes estes que se encontram proibidos de se reunirem num espaço de 38 quilómetros em redor da Messehalle onde tudo se vai desenrolar. Claro está que sendo Hamburgo uma cidade onde os movimentos de extrema esquerda são tradicionalmente fortes (Caso da extinta RAF ou dos mais actuais Antifa), esperam-se verdadeiras desobediências civis que vão assumindo títulos catitas como "Uma onda contra o G20" ou "Welcome to Hell".
Na realidade, já começaram a fazer um pequeno aquecimento, com pequenas manifestações e esta semana com o queimar dos cabos de alimentação de uma das principais linhas de comboio de acesso à cidade, deixando milhares de pessoas apeadas durante horas. 
Claro está que isto está a deixar os habitantes bastante descontraídos e alegres. A dona de uma loja de queijos onde irei contar estórias no dia 1 já me confessou que irá  fechar a loja pois a mesma encontra-se dentro do perímetro de segurança onde aconselham os habitantes a andarem munidos de passaporte e a não terem consigo objectos perigosos. Quando em 2013 a polícia tentou desocupar o icónico Rote Flora, um senhor foi proibido de cruzar a zona de segurança pois tinha um super perigosíssimo piaçaba que, como todos bem sabemos, pode ser usado enquanto arma letal nalguns pontos do planeta.
Quando assim é e sendo que também moro dentro do perímetro de segurança preventivo (a duas estações de metro do encontro) tomei a decisão de ir fazer férias para um outro lado qualquer, bem longe daqui.
Obrigado pelas férias extra, caros senhores ilustres que nos irão agraciar com a vossa visita.


PS- Já agora, uma pequena questão técnico-burocrática: a quem mando a factura das férias? Trump, Putin, Erdogan, Merkel?

sábado, 17 de junho de 2017

Dois autores

Descobrir um autor de quem se gosta é bom.
Descobrir um autor de quem se gosta muito, é muito bom.
Descobrir dois autores que nos fascinam no espaco de um mes é, no mínimo, angustiante.
Depois de nova incursao por terras catalas em Abril, a minha bibliotecária de eleicao e inspiracao para o mundo dos contos despediu-se de mim com uma recomendacao imperdível: Isto tens que ler que é a tua cara. Chegado a Hamburgo, dirigi-me à mínima e encantadora livraria Seitenweise que amiúde me alimenta a fantasia de um dia vir a ser livreiro, encomendei o Das Große Buch für Kindergeschichten do suico Franz Hohler. No dia seguinte lá tinha o livro à minha espera e o sempre imperdível comentário de uma das donas que me garantiu que o que me esperava era inaudito. O conjunto de contos, teoricamente para criancas, fascinou-me desde o início gracas a um humor incomparável e a um ritmo de escrita verdadeiramente alucinante que mo fez devorar em pouco tempo, fazendo-me regressar à livraria para encomendar o conjunto de contos para adultos. Infelizmente o Franz Hohler nao se encontra traduzido para portugues, mas sim em espanhol, frances ou ingles. Imperdível para todos os que amam contos e nao só.
Já o recomendei a uma grande amiga desta vida dos contos que no outro dia me saudou com um abraco (coisa rara por estas bandas) agradecendo a referencia. Autores assim fazem bastante mais sentido quando partilhados.

A segunda paixao arrebatadora foi o britanico Hanif Kureishi. Por ironias desta vida tenho vindo a coleccionar livros dele que tenho vindo a adoptar em encontros fortuitos na rua, mas foi de uma das bibliotecas da cidade que li o primeiro livro dele Love+Hate. O impacto foi tal que de repente me encontrei numa espiral obsessiva a ver vídeos dele no Youtube, coisa que já nao acontecia desde que descobri Vikram Seth. Nao conseguindo disfarcar a ideia de que adorava poder encontrá-lo de forma casual num bar, sentar-me ao lado dele e nao lhe dirigir palavra a noite inteira, tem-me perseguido a vontade de continuar a ler mais obras dele. E artigos. E entrevistas. E de dizer bem alto, leiam, leiam!