sábado, 12 de agosto de 2017

de lojas

Ao longo dos últimos trinta e cinco anos de vida tenho vindo a desenvolver uma paixao secreta por lojas que me alimentam fantasias quando as tenho por perto e saudades quando nao.
Tendo nascido em Santarém nos idos anos oitenta e vivido alguns bons e intensos momentos nos anos noventa, é impossível negar a influencia que a Caminho (na altura ainda independente da super poderosíssima Leya) teve, o encanto mágico da Bijou do Largo do Seminário (e dos seus pecaminosos pampilhos) ou a forma como as fotografias de outros tempos expostas na montra do Grandella Aires exerceram sobre mim.
Em Lisboa a Chapelaria Azevedo, o Nova América, a Ginjinha, a Casa do Alentejo, o Alves, o Botequim, entre tantos outros prosseguiram essa minha formacao.
Em Dezembro de 2012 aterrei em Hamburgo deparando-me com um novo mundo: dos supermercados turcos e do imperdível Lagos que constituem bóias de salvacao gastronómica, ou dos recantos imperdíveis do Altstädter Stube ou o Aalhus, ou das pequenas livrarias independentes como a Seitenweise ou a Zweieinsdrei, que vieram conferir novos mundo a este meu mundo.
No outro dia, e meio a jeito de despedida, fui até Wandsbeker Chaussee à 1001 Nachts, loja de produtos orientais, liderada pelo Maddy, egípcio surpreendente que faz as suas próprias misturas para os tabacos de narguilé. Ao contrário de muitas lojas, ele nao se limita a vender. Na realidade, creio que é impossível lá ir e comprar seja o que for sem ter que falar com ele, pelo menos meia hora. Os temas sao sempre inesperados: desde política a viagens, sem esquecer as inúmeras feiras porque vai passando. A fim de me abastecer antes de rumar a Portugal, reparei que parte das suas novas criacoes tinham nomes de mulheres. Talvez abusando da confianca, perguntei-lhe de onde é que aquilo vinha. Ele sorriu-me, recusou mais uma chamada de um telemóvel que tocava incessantemente e explicou-me que se tinha vindo a dedicar a criar essencias que o faziam recordar várias mulheres.
Esta é a Paula, disse-me. Nem sei se ela se chamava assim porque na realidade nem falei muito com ela, mas o perfume que ela tinha era algo assim. Esta a Inez, que tinha uns olhos negros tao profundos como só no Egipto tinha visto. A Fatma, a Maria, a Ingrid e todo um rol de mulheres com quem nunca tinha ousado falar mas que o inspiraram para tais criacoes. Como nao sei escrever poemas, faco o que posso para nao me esquecer delas.
Compungido, abandonei a loja com meia dúzia de memórias de mulheres dentro da mochila, achando que amanha é bem capaz de nao vir a chover em Hamburgo