terça-feira, 10 de outubro de 2017

Catalunya

Antes de comecar este texto devo confessar que a minha relacao com a Catalunha é sobretudo emocional, fruto de todas as vivencias que tenho vindo a acumular nas minhas visitas anuais e das pessoas com quem me tenho cruzado e me tem inspirado para seguir os meus caminhos.

Hoje segui de perto e com o coracao nas maos as declaracoes do presidente da Generalitat Carles Puigdemont. Da mesma forma como segui e sofri com a brutalidade policial a 1 de Outubro aquando do referendo "inconstitucional" tendo em vista uma independencia de Espanha.
Esperava, confesso, uma declaracao emocionada e vívida de independencia, de afirmacao de uma nacionalidade e do fim do que considero ser um abuso de um país em relacao a outro. E isto defendo-o tendo em conta de que a Catalunha é, para mim, um país, com tudo o que isso acarreta.
A todos os que poem a questao nacionalista como uma questao económica e de teimosia das estranhas gentes que constroem torres humanas e comem botifarra, pergunto-me apenas como se sentiriam os portugueses caso o nosso presidente fosse detido e fuzilado (como aconteceu com Companys em 1940) e que no final da ditadura opressora nao fosse reconhecida de volta enquanto país livre e democrático. Esta tem sido uma das questoes que raramente tenho visto abordada pelos comentadores portugueses ou até mesmo pelos alemaes, que se limitam a afirmar que a catalunha sempre foi Espanha.
No dia 1 de Outubro milhoes de catalaes foram votar, mesmo contra vontades políticas e judiciais que tudo fizeram para o impedir. E tudo, refiro-me a atitudes democraticamente questionáveis como cortes de redes de internet, aameacas de prisoes a diversos dirigentes, multas que subiriam a 600 mil euros aos colaboradores, à prisao efectiva de pessoas e, claro está, a uma repressao policial tendo em vista uma política de medo, em muito semelhante às dos regimes ditatoriais.
Seguiram-se mais ameacas e atitudes mais incisivas como cortes financeiros, bloqueio de contas bancárias (como as da Omnium Cultural) ou o aliciamento para as empresas catalas se mudarem para solo espanhol. A vice-presidente de Espanha chegou mesmo a sugerir que Puigdemont deveria seguir os passos de Junqueras em 1940.
Contudo, Puigdemont ainda nao declarou a independencia e propos continuar com diálogos, aclarar situacoes e responsabilidades e tentar fazer um processo democrático e claro. Muito ao contrário de Rajoy que tem sistematicamente defendido solucoes judiciais para castigar os responsáveis, um pouco à semelhanca de um jogo de criancas.
A isto tudo tenho assistido perante a insistencia europeia em dizer que se trata de um problema interno espanhol.
Mas talvez nao o seja. Que diriam os responsáveis europeus se a Catalunha aceitasse o apoio e influencia de uma Rússia em crescimento e à procura de novos centros de influencia no mundo? Ou da China? Ou de milionários árabes?
Quando Portugal recuperou a sua independencia em 1640, também era inconstitucional. Assim como as diversas colónias americas de Espanha. E aqui estamos nós. Um Portugal mais ou menos livre e capaz de decidir por si próprio.
E eu, pessoa emocionalmente volútil e sem grande voto na matéria, sigo esperando novas,de coracao na mao aguardando nao ter que cantar como Chico Buarque:
 Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente, um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente nalgum canto de jardim

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