sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Uma geringonça para a Alemanha, se faz favor

Há dois meses houve eleições na Alemanha: CDU com vitória pouco convincente, o descalabro da SPD, o regresso da FDP e a escandalosa entrada da AFD nas contas parlamentares. Isto são os factos iniciais.
Ciente de que governar é uma coisa séria onde não pode haver contradições, a senhora Merkel iniciou negociações para formar governo. Perante a recusa de um SPD desgastado de uma coligação governamental de quatro anos e tendo em Schulz um perdedor capaz rivalizar em maus fígados com o Jorge Jesus, virou-se a CDU para algo jamais visto por estas bandas: coligação com liberais e verdes, num acto que ficou desde logo conhecido como a coligação Jamaica ( ao preto da CDU juntava-se o amarelo da FDP e o mais óbvio verde dos verdes). E aí começou a faena: dia após dia os noticiários foram mostrando uma Merkel cada vez mais desgastada a anunciar que estavam no bom caminho, uns verdes a dizerem que apesar das diferenças algo se estava a resolver e um líder dos liberais em constante modo de "eu sou espectacular e não sei porque é que não reconhecem de uma vez por todas que quem devia mandar nisto era eu".  Ah, claro está que a esta constelação se teve que somar igualmente a presença de elementos da CSU que, como se sabe, mais do que o partido irmão da CDU na Bavaria, são gente que falam com sotaque curioso e que gostam de mostrar que isto de família, ao contrário dos amigos, é coisa que realmente não se escolhe.
Perante tão maravilhoso cenário capaz de encher as manchetes durante dois meses e de colocar a Jamaica no roteiro político da Alemanha, no que a meu ver poderia ter ficado conhecido como as Jamaica talks, o resultado das negociações foi aquele que se esperava de um país democraticamente maduro e sério: não resultaram.
Os verdes acusaram os liberais de não abrirem mão da exploração de carvão e de não cederem em relação às políticas de controlo indústria automóvel, a CSU insistiu em políticas mais próximas da extrema direita a fim de roubar eleitores à AFD e os liberais, na figura do seu líder Christian Lindner, não perceberam porque é que ninguém reconheceu que eles são espectaculares e por isso deveriam ser eles a mandar nisto tudo.
Novas eleições!,  gritou-se do lado do SPD e eu de repente imaginei o ar de satisfação da AFD ao poderem adicionar ao seu manifesto anti político e  antidemocrático um: vejam a inépcia dos políticos convencionais. Se ganharmos, não se preocupem: dispensaremos automaticamente todos os demais políticos.
A isto tudo reagiu o presidente alemão com um pedido de diálogo ao seu SPD e uma Merkel a dizer que só governa com certezas.
Na segunda abre-se nova ronda de negociações para a recriação de um bloco central perante o cepticismo do senhor Schulz, o que me faz ter vontade de pedir ao ministro dos negócios estrangeiros português que venha à Alemanha vender o mais recente conceito político português da geringonça que aparentemente funciona mas que ninguém sabe bem porquê. E nestas coisas a ignorância é a minha mais fiel amiga. E os amigos, como se sabe, podem-se escolher.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Viajar

Quando viajo sou sempre invadido por um mesmo sentimento de pensar em como seria a minha vida nesse outro local, que outros hábitos somaria aos indeléveis que já tenho (e que porventura nunca virei a perder, engrandecendo-os a cada dia que passa).
Para tal nao preciso de destinos exóticos, contentando-me em imaginar como seria viver na Figueira da Foz, Évora ou até mesmo Óbidos. Claro está que também já sonhei em viver na Índia, no Irao, na Catalunha ou até mesmo na minha Santarém natal que por vezes se enche de fantasias místicas entre um passado e um tempo qualquer futuro que nunca sei se se chegará a concretizar.
Com o AirBnB tenho visitado e habitado casas que tem tido a capacidade de me encher de passados de outras pessoas, de outras vidas e outros modos num género de complemento perfeito ao que se passa quando leio.
Sei que tudo isto poderá nao passar de quimeras e sonhos de conseguir ser diferentes pessoas numa só vida, mas que fazem feliz.
E por isso mesmo creio que nao deixarei nunca de visitar e revisitar sítios, de ler livros situados em destinos mais ou menos exóticos, sentindo-me mudar e metamorfosear, num crescimento irreal que acabrá por me compor enquanto ser real.